Depoimento – Empresário não responde a perguntas e chora em depoimento na CPMI

Rei da soja ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro / Foto: Reprodução

O empresário Argino Bedin, 73 anos, suspeito de ter financiado os ataques aos prédios dos Três Poderes, optou por ficar em silêncio durante depoimento nesta terça-feira, 3, na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. Ele abriu mão do pronunciamento inicial, chorou no decorrer da oitiva e respondeu apenas “sim” ou “não” a poucas perguntas.

O direito de ficar calado em questionamentos potencialmente incriminato´rios foi concedido ao “pai da soja”, como é conhecido, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli nesta segunda-feira, 2.

Bedin foi convocado pelo colegiado como testemunha. Ao iniciar a sessão pelas perguntas da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), o empresário informou que não falaria. “Eu vou exercer o meu direito de permanecer calado”, disse. O “pai da soja” foi o primeiro suspeito de financiar os atos convocado pela CPMI.

Durante a oitiva, o empresário começou a chorar durante a fala do deputado federal Filipe Barros (PL-PR). Segundo o bolsonarista, o empresário não deveria ser investigado por ter colaborado com uma manifestação que tinha como objetivo ser pacífica. “As nossas manifestações (da direita) sempre foram pacíficas. Um empresário exemplar pro nosso País, como o senhor Argino Bedin, eventualmente ajuda mais uma dessas manifestações, só que nessa manifestação deu o que deu no dia 8. Ele pode ser responsabilizado por isso? É óbvio que não”, disse Barros.

Bedin foi consolado pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF). “Este senhor tem 72 anos de idade. Em novembro de 2022, teve seus bens bloqueados. Como poderia ter financiado qualquer coisa? Estou esperando o Excelentíssimo ministro dos Direitos Humanos vir acompanhar uma sessão desta CPMI e ver o que fizeram e continuam fazendo com crianças, mulheres e idosos”, disse a senadora.

Durante o segundo momento da CPMI, após o almoço, o empresário não usou o direito ao silêncio ao responder a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Mas foi sucinto nas respostas. Questionado se ele se considera inocente, disse “com certeza”. E afirmou que “não” se sentiu intimidado com o colegiado. “Nem um pouco”, disse.

Argino teve as suas contas bancárias bloqueadas por determinação do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, em novembro do ano passado. Ele faz parte de um grupo de empresários suspeitos de financiar atos antidemocráticos como bloqueios e obstruções de estradas após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.

Depoimento foi o último da CPMI

Pela falta de acordo entre a base governista e a oposição para pautar novas convocações ao colegiado, a CPMI foi encerrada, de forma extraoficial, nesta terça-feira. Não haverá mais depoimentos até o relatório final de Eliziane Gama, que será apresentado no próximo dia 17. O fim dos trabalhos do colegiado ocorre sem as oitivas do ex-ministro e vice na chapa de Bolsonaro nas eleições do ano passado, Walter Braga Netto, e do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier dos Santos, que eram de interesse da base governista. Também não haverá depoimentos de membros da Força Nacional, solicitados pela oposição.

Estava previsto para esta quinta-feira, 5, o depoimento do soldado da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Beroaldo José de Freitas Júnior, que participou da defesa do Congresso Nacional durante os ataques às sedes dos Três Poderes. Porém, a oitiva não será realizada.

Empresário é acusado de financiar atos antidemocráticos

Um levantamento do Estadão com base em documentos da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrou que a família de Argino, que é tradicional no agronegócio de soja em Sorriso, em Mato Grosso, doou R$ 160 mil em repasses feitos para a campanha à reeleição de Bolsonaro. Além disso, foi constatado que 15 caminhões que se deslocaram até o Quartel-General do Exército após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pertenciam aos Bedin.

Em setembro de 2020, o empresário recebeu, em Sorriso, Bolsonaro e uma comitiva presidencial composta do então ministro da Infraestrutura e hoje governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do ex-chefe do Gabinete de Segurança institucional (GSI) general Augusto Heleno, que depôs na CPMI na semana passada. Naquela visita a Mato Grosso, ocorrida durante os primeiros meses da pandemia de covid-19, o ex-presidente disse que o Estado “não se acovardou” e criticou as políticas de isolamento social que eram adotadas naquela época.

Os requerimentos para a convocação de Bedin à CPMI foram protocolados por Eliziane Gama e pelo deputado Carlos Veras (PT-PE). Veras justificou o depoimento de Argino ao colegiado pelas suspeitas de financiamento dos atos golpistas.

“Conhecido no Estado do Mato Grosso como ‘pai da soja’, Argino Bedin é um latifundiário sócio de pelo menos nove empresas e teve as contas bloqueadas por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Assim, a convocação do Sr. Argino Bedin é relevante para que esta CPMI possa investigar e coletar informações pertinentes para desvelar os reais responsáveis pelo 8 de Janeiro de 2023”, afirmou Veras.

Fonte: Estadão Conteúdo / Notícias ao Minuto

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